mais um não pra minha coleção

porque alguns dias
são mais difíceis de viver
e neles cada hora
passa a ser vitória derrocada
não importa a causa
e nem tenho razão
abrem-se no peito as consequências
cegas de sentido
lâminas que herdei
desespero comprimido
sensações corrosivas
amaciadas embaixo da língua
e toda desimportância somada
é inversamente proporcional
(ao cubo) do eu quadrado
cada dia mais subtraído
multiplicado por menos eu.

cru de ilusões
somos muitos
um nó, um pó
somos nada.

permita universo das vontades
que eu lá possa ser inteiro
enquanto aqui sou metade
me leva pela mão Atena
e deixa estar no alto
tu e eu na vida de um palco
com aperto bom no peito
de tocar a pele no arrepio
pra ser todo eu fora de mim
e um pouco eu no teu rodopio.

agonia mansa que avança
na hora de renascer
para teus ouvidos alheios
e tímpanos sedentos.

deitados nus
sobre uma estampa de mar
nós dois, um par,
a valsar em braile
porque a vida é nada mais
que um salão de baile.

.

Olha que a vida é muito além
Do destempero que não convém
No teu gosto.

da láctea não se via mais nada.

logo hoje que o sol apareceu,
a vontade de viver cansou,
morreu.

não sei se é meio
se é mais ou se é menos
sei que tive que refazer anos
e anos de um só receio.